Faz já 10 anos que conheço Al Berto.
Mais precisamente desde o dia em que morreu e que ouvi o nome dele pela primeira vez a passar no telejornal.
Lembro-me de na altura ter ouvido um excerto de uma entrevista sua que gostei. A pose, o gesto, a atitude levemente provocante e eu com 15 anos.
No dia seguinte, entrei dono do mundo e da verdade na Biblioteca a pedir tudo o que tivessem de Al Berto. Desconfiados, lá me deram.
E dei de caras com isto, que me persegue até hoje:
há-de flutuar uma cidade no crepúscolo da vida
pensava eu... como seriam felizes as mulheres
à beira mar debruçadas para a luz caiada
remendando o pano das velas espiando o mar
e a longitude do amor embarcado
por vezes
uma gaivota pousava nas águas
outras era o sol que cegava
e um dardo de sangue alastrava pelo linho da noite
os dias lentíssimos... sem ninguém
e nunca me disseram o nome daquele oceano
esperei sentada à porta... dantes escrevia cartas
punha-me a olhar a risca de mar ao fundo da rua
assim envelheci... acreditando que algum homem ao passar
se espantasse com a minha solidão
(anos mais tarde, recordo agora, cresceu-me uma pérola no coração. mas estou só,
muito só, não tenho a quem a deixar.)
um dia houve
que nunca mais avistei cidades crepusculares
e os barcos deixaram de fazer escala à minha porta
inclino-me de novo para o pano deste século
recomeço a bordar ou a dormir
tanto faz
sempre tive dúvidas que alguma vez me visite a felicidade
Até hoje, caro Al Berto, até hoje.
Etiquetas: Poesia
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d mARIA