Olho este corpo morto aqui deitado
E sinto impulsos de beijá-lo e ter
Toda a força de beijá-lo
Com sugestões de prazer...
Que bruta sinceridade!
Que humildade!
Que vaidade!
Que mentira!
Que verdade!
Todo nu!
Eu pressenti-o
Dando desejo e fastio...
Não é de mulher, não é;
Nem d´homem; nem d´animal
Irracional:
É d´Anjo predestinado
Que foi sacrificado
Para dar a noção exacta da renúncia!...
Ai! Dos corpos metidos em sarcófagos!...
Ai! De quem morre vestido!...
Nesta luxúria da Morgue
Há todo o satanismo
Que nos foi prometido
No Final...
São os gestos parados;
Os olhos vidrados;
Os ouvidos tapados;
Os sexos castrados
E, por cima de tudo, o silêncio das bocas!
Quero
Amar este sol da terra
Que mostra o calor do céu...
Anda aqui toda a loucura
Da razão que não morreu
Nos sonhos dessa Lonjura
Que nos fez, que nos perdeu...
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