Numa altura em que Irvine Welsh me fazia dizer que estaria pronto para morrer, caso no céu houvesse livros dele, sou levado de novo à realidade por causa da Cimeira Iberamericana.



O que é que aconteceu?



Terá sido o nosso presidente da república a elogiar o nosso primeiro-ministro? Isso não me choca.



Mas isto choca-me.



Tivesse Aznar mandado assassinar Zapatero na Puerta del Sol e enforcado Montalban (aquando da publicação de La Aznaridad), praticado tiro ao alvo com todos os que se manifestaram contra as medidas do seu governo (sobretudo em relação à guerra com o Iraque), e hoje ele poderia perseguir e expulsar os milhares de compañeros venezuelanos a viver em Espanha sem qualquer tipo de problema.





Trabalhei com dois venezuelanos em Tenerife (ilha onde escritos como venezuelanos no son guanches já são comuns), e posso-vos garantir que em muito se assemelham aos maciços de brasileiros que têm chegado nos últimos anos ao nosso país. São nacionalistas, extremamente orgulhosos do seu país não hesitando em criticar o país que os acolheu. Desrespeitam a autoridade espanhola e pouco ou nada se integram (quantos portugueses haverá casados com Venezuelanas?). Bem sei que os que conheci não representam o melhor que a Venezuela tem para oferecer e Chavez seguramente também não.





Mas da mesma maneira que tão facilmente se critica Bush, que creio nada ter que ver com muitos americanos, gostaria de ver na intelectual esquerda europeia alguém que criticasse com a mesma paz de espírito quem não respeita os mais básicos valores da democracia (tal como nós a conhecemos).





Tivesse o rei de Espanha crescido junto dos meninos de rua do Estoril e hoje Chavez teria pelo menos um olho negro.

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