Pode ser apenas impressão minha, mas nas alturas em que luto tremendamente contra um tempo que me foge esguiamente dos dedos, há sempre ilhas contrastantes (ou será que sou apenas eu que sou uma ilha??).
Depois de uma breve ausência do meu habitual posto de trabalho para discutir o futuro de uma exposição que ainda não existe, eis que regresso com uma tenebrosa lista mental de tudo o que tenho que fazer.
Ao chegar, ainda meio baforido de ter subido as escadas a correr, deparo-me com uma dança alegre de Kizomba entre dois colegas que, ao acabar apruptamente perante o meu não escondido ar de puro espanto, se seguiu um profundo suspiro de lamento.
Temi o pior, confesso, mas o leitor será soberano na decisão do adjectivo para qualificar o meu destino.
Relatava eu que ouvi um suspiro profundo, após o qual se seguiu uma descrição pormenorizada de como os vizinhos de determinada senhora tinham galinhas e de como não limpavam o estrume das mesmas, tornando-se assim impossível abrir as janelas.
Como resposta sincera apresentei o meu sorriso mais revelador de não interesse na questão levantada.
"Porque aquilo eu não falo com aquelas pessoas, pois são umas badalhocas e têm três filhos"
Vindo isto de uma senhora que passa dias inteiros a apregoar de como é activa na sua missão evangelizadora das crianças alentejanas e de como nos devemos amar em Cristo, soa-me, no mínimo, estranho/confuso/grrrnhag (riscar o que não interessa). Mas poderei apenas ser eu. Já agora, não consigo perceber o que é que ter três filhos tem a ver com se ser badalhoco (e isto mesmo tendo em conta uma visão estrictamente puritana do mundo).
Quando finalmente conquistei um lugar no sagrado silêncio, vi-a pegar no telefone que tenho aqui mesmo À minha frente e proceder a um sem número de chamadas onde relatou com mais pormenores do que a mim toda a situação, pedindo ajuda misericordiosa para a resolver.
No meu mais fundo, sei que há uma parte de mim que lhe agradece a piedade que teve em não me ter contado directamente os mais ínfimos pormenores da caca de galinha enquanto escrevo o relatório de uma actividade e leio mais alguns contos brasileiros durante as brancas do pc.
Obrigado Senhor pela Tua imensa bondade!
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