Big Breasted Blonde Amateurs
«Cada ratinha tem o seu mistério e desvendar uma não quer dizer que percebemos o mistério total», Puchkine, Diário Secreto
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Livro da Semana
Nem a propósito deste artigo do Jaime Bulhosa, o livro desta semana arrisca-se a receber a mais baixa nota desta coluna semanal.

No seguimento de um pedido originário do Orgia Literária, lá me lancei na descoberta de mais um autor portugês (mas que fé é esta que me atira de cabeça para autores portugueses?). Depois de ter lido uma crítica razoavelmente positiva na Y (acho eu), senti que poderia ser uma boa descoberta.

Mas não. O estilo cinematográfico, que na contracapa é referido como uma imensa virtude, deixa um pouco a desejar e a variação entre personagens narrativas é praticamente imperceptível. As mulheres escrevem e percepcionam o mundo como os homens e isso é redentor. Um homem escrever como uma mulher é difícil. Elas têm uma percepção e entendimento do mundo que em muito me ultrapassa e por isso é tão bom ler Clarice Lispector, Márcia Denser ou Virginia Woolf. Para um homem ousar tal artimanha tem que ter, pelo menos, 3/4 dos traumas psicológicos do Mishima. Portanto, ou o senhor Paulo Castilho narrava tudo na voz do sr. Ferreira, ou então estaria quieto.

Mais críticas: a crítica constante à sociedade portuguesa e seus costumes é recheada de lugares comuns, roçando frequentemente ditos já adoptados pelo mais comum Zé Povinho, quando na verdade tenta dar um tom elitista à coisa. E quando tenta dar um tom coloquial, soa inevitavelmente a elitista. Uma família comum não mandava a filha viver para Londres nos anos 60 nem ia com relativa facilidade aos EUA nos anos que antecederam o 25 de Abril. Duvido igualmente que um jovem que more no Campo de Santa Clara beba bom vinho e coma pizzas de qualidade duvidosa todos os dias. Se quer demonstrar decadência, ponha-os a comer hamburgueres congelados a beber e a beber litrosas na tasca da esquina. As duas coisas não se coadunam. Que o diga o MEC. Mas isso escapa. Ou escapava caso eu estivesse a gostar do livro. O facto de não gostar transformou-me num leitor mais crítico e parvo. Irritante, daqueles que não deixa passar nada.

Se me perguntarem se devem ler o livro? Lamento imenso e tenho dúvidas que o sr. Paulo Castilho leia esta crítica, mas não vos consigo recomendar este livro.

3/10

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