Uma das grandiosas vantagens de andar mais rápido do que a maioria das pessoas que coabitam esta vila altenjana comigo prende-se com o facto de apenas escutar momentos fugazes das suas conversações matinais.
Hoje, por exemplo, vinha eu a pensar na concretização da minha proposta de projecto de mestrado quando sou invadido pela conversa de duas senhoras cujos níveis de poluição sonora se assemelhavam ao do afundar do Titanic:
- Atão, nã se anda melhor?
- Ai ca porra! Isto é vómitos, isto é diarreias, isto é má-disposição, isto é agonia. Uma pessoa nasce pa sofrer, é o que é.
Avanço alegre pelo facto de ter umas pernas que me permitem avançar à estrondosa velocidade de 7 pedrinhas e meia de calçada por cada passo dado, deparando-me com dois senhores possuidores de farto bigode em alegre conversação:
-Isto o gajo é um filha da puta, caralho. Cabrão de merda. Filha da puta.
- Podes crer.
Enquanto me afasto ainda mais rapidamente, consigo apanhar ecos de nova chorrilhada de asneiras a fim de assegurar que não as esqueceria até chegar ao meu local de trabalho.
Perante os habituais cumprimentos de bom dia por parte dos compatriotas laborais, limitei-me a sorrir timidamente, evitando proferir qualquer tipo de palavra, que isto às vezes mais vale estar calado.
Etiquetas: A Sul de Nenhum Norte
Tu não leste os avisos nesse dia? Obrigatório sair de cotonetes enterrados nos ouvidos.
Tens de andar mais atento.