Big Breasted Blonde Amateurs
«Cada ratinha tem o seu mistério e desvendar uma não quer dizer que percebemos o mistério total», Puchkine, Diário Secreto
terça-feira, 18 de novembro de 2008
De ser scalabitano
Quando vim para Grândola trabalhar em Outubro de 2005, julgava eu ser o único scalabitano nestas terras tantas vezes esquecidas, ou relembradas apenas uma vez por ano por causa de um
"hit" do Zeca Afonso.
Minto. Embora o presidente do município não seja um nato scalabitano, os anos que lá passou ter-lhe-ão conferido um estatuto de segunda nacionalidade ou algo que o valha.
Mas tirando esse exemplo institucional que já resultou numa geminação entre as duas terras, achava-me eu dono dessa verdade única que era ser scalabitano em Grândola.
Nada mais falso ou erróneo, como mais tarde vim a descobrir.
Quando foi publicado o meu primeiro artigo para o jornal local, fui abordado por um professor de 1º ciclo que me perguntou sem pudor se eu era de Coimbra, pois tinha confessado uma paixão idealista pela Briosa de tempos que nunca conheci nem são os meus.
Respondi que não e ergui a voz solitária e briosa em como era scalabitano de nascença e formação.
Depois do sorriso bondoso de quem sabe e já viveu bem mais do que eu, despede-se de mim deixando no ar a nota que também a sua esposa (igualmente professora) era de Santarém.
Escândalo!
Na vez seguinte que estive com ela, abordei-a e falámos quase 10 minutos sobre tamanha coincidência. Nunca mais tocámos no assunto.
E o tempo foi passando.
Foi então que descobri que o namorado de uma colega de trabalho da minha esposa era igualmente de Santarém. Havendo fortes probabilidades de o conhecer graças à semelhança etária, o meu mais forte receio confirmou-se assim que o vi: as pernas dele tinham já sofrido mais do que o que seria razoável graças à minha crónica azelhice a jogar futebol.
Mais tempo se passou. Menos. Bem menos quando descobri mais um outro funcionário autárquico era igualmente de Santarém. Já esse indagou indirectamente quem era a minha família, fazendo-se luz quando referenciada a Calçada da Junqueira.
Das vezes em que privei com ele, nunca falámos sobre iso.
Mas a gota de água surgiu na semana passada quando me deparei com uma antiga conhecida dos tempos de Liceu que agora tinha conseguido (intento maior de uma vida!!) arranjar trabalho em Grândola!!
Sorrimos ao nos vermos, trocámos palavras cordiais e de ocasião, chegando mesmo a incluir algumas de cariz laboral.
Numa vila cuja população ronda os 8000 habitantes, haver 6 scalabitas é muita coisa. Demais, talvez. Duvido que haja 6 grandolenses em Santarém.
Alentejanos há em barda. Lembro-me da minha mãe, alentejana de nascença, falar um português repleto de palavras estranhas sempre que encontrava um outro alentejano. Que saiba há jantares e outros tipos de confraternização de forma a manter viva a união alentejana. Esse associativismo regionalista está bem espelhado no Grupo Coral da Damaia.
Lembro-me que nos tempos da Faculdade tentei organizar um jantar de scalabitanos numa tasca atrás do Estádio de Alvalade. O preço prometia e o vinho até era Lezíria para imensa infelicidade dos nossos fígados debilitados de estudantes universitários.
Aparecemos 7, sendo que 3 saíram mais cedo por causas e motivos desconhecidos num jantar onde dominou um silêncio frequentemente mortal.
Em suma: os scalabitanos não gostam particularmente uns dos outros. Não há identificação clubística (até porque a União anda nas ruas da amargura) e o vento frio com que a cidade recebe as noites de inverno transforma e modela muitas personalidades, fazendo-nos duros e indiferentes aos nossos conterrâneos apenas por serem conterrâneos.
Amo e conheço a cidade como ninguém, mas quando me encontro com um outro "par" não vejo como tal nem sinto particular simpatia/empatia.
Assim somos.

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1 Comments:
Blogger Gonçalo Veiga escreveu razoavelmente...
Eu lembro-me bem desse jantar! :p Eu fiquei la para o que desse e viesse. E deu e veio!

Bom artigo ;)

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