Big Breasted Blonde Amateurs
«Cada ratinha tem o seu mistério e desvendar uma não quer dizer que percebemos o mistério total», Puchkine, Diário Secreto
sábado, 1 de novembro de 2008
Para ecoar num futuro mais ou menos distante ou como se fosse o meu artigo para um número especial de Natal

No outro dia recebi um presente.

Agradeci educadamente, mas a partir daí não imaginam o pânico que me invadiu de forma incontrolada: será que sorri em demasia?, será que não sorri de todo?, terão os meus olhos correspondido à imensa alegria interior que senti? E se…

Por vezes (mais do que as que seriam desejáveis ou recomendadas pela União Europeia) não sei expressar sentimentos.

Recebi um livro.

Livro, que é o objecto que sempre penso em primeiro lugar quando penso em oferecer alguma coisa a alguém de quem gosto. Muito, de preferência.

Faço duas ressalvas, pois já houve casos de puro egoísmo num gesto que aprendi com o tempo ser de plena generosidade:

- No final da adolescência, ofereci à minha namorada da altura Uma Casa na Escuridão de José Luís Peixoto, a fim de finalmente conseguir fazer desaparecer a minha curiosidade em relação à obra de um autor que tinha surgido havia pouco.

Desde aí até aos dias de hoje já li virtualmente tudo do José Luís Peixoto. A relação, essa, acabou ao fim de um mês (terá sido tanto?).

- Iludido por um livre espírito pensador que conheci nos tempos da Faculdade, ofereci-lhe uma sentida cópia de A Colmeia de Camilo José Cela, a fim de conseguir uma boa discussão, um retrato e abordagem única sobre um dos livros que mais me marcou.

Ainda hoje espero pacientemente por uma crítica ou uma boa conversa que, obviamente, nunca surgiram.

Feitas estas duas ressalvas, confessa em mim a voz humilde que quando não gosto particularmente de uma pessoa, lhe ofereço livros de que não gostei e que frequentemente se encontram em promoções fantásticas numa qualquer livraria deste nosso país.

Já quando é ao contrário, acreditem que o sentimento que liga o oferecer ao oferecido é muito, muito mais forte.

Aprendi a não pedir nada em volta, mas quando recebo um comentário, um sorriso sincero ou um olhar indescritível (já para não falar de palavras sábias e belas que sorvo como se desvanecessem no instante em que são ditas ou lidas), sinto o meu coração explodir de uma alegria arrebatadora que só Régio conseguiu um dia descrever no final da Toada de Portalegre:

Será loucura!..., mas era
Uma alegria
Na longa e negra apatia
Daquela miséria extrema
Em que vivia,
E vivera,
Como se fizera um poema,
Ou se um filho me nascera.

No outro dia recebi um presente. Um livro, para ser mais concreto. E foi na dúvida que me atormenta de saber se a minha reacção física correspondeu à generosidade da oferta, que aqui ficam estas palavras que poderiam muito bem ser resumidas numa só:

Obrigado.

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1 Comments:
Anonymous Anónimo escreveu razoavelmente...
Obrigada por este texto.

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