2010.
Eis que vejo diante de mim mais um ano a começar. Como todos os anos, espero sempre que à meia noite algo de mágico aconteça, que as pessoas que estão à minha volta ganhem uma cor especial, que os sofás se tornem mais confortáveis, que o camarão se refresque a tal ponto que o julgue acabado de pescar nas mais profundas águas de Moçambique, que o Benfica finalmente se afirme como a melhor equipa mundial (quizá europeia), que o Mantorras recupere o joelho e a titularidade na selecção angolana, que consiga ler os volumes todos do Em Busca do Tempo Perdido numa só noite, que os impostos baixem, que o Lobo Antunes deixe de escrever (pelo menos publicar já é um dado garantido), que o Benfica se sagre campeão nacional, que goleie o Porto no Dragão, que o Rui Costa volte a jogar, que contratem o Maldini, o Robinho ou o Weah, que o Berlusconi perca mais dois ou três dentes, que consiga correr mais do que 300 metros sem parar e julgar que vou morrer de ataque cardíaco, que não sinta frio nos pés enquanto escrevo as crónicas para o Ecos, que nenhum peixe aranha me morda, que me sinta um Romário do futebol de praia, que o Ronaldo seja mais humilde, que o Carlos Queiroz deixe crescer o bigode, que o Eça publique algo de fabuloso lá onde estiver, que não me esqueça de pagar o seguro do carro, que ainda tenha carro para poder pagar o seguro, que sinta que ainda há portas que podem ser abertas, que o Benfica seja campeão nos juniores, juvenis e iniciados ( A e B), que o meu consumo de chá seja igual ou superior ao deste ano, que continue a saber os segredos do caril caseiro, que continue a gostar de andar a pé, que proves novos vinhos do Douro, Dão e Alentejo, que continue a sentir o fresco saudável que enregela os ossos das noites de Inverno, que guarde na memória de muitos e bons abraços (sobretudo aquando de golos do Benfica), que o universo de estórias de que me alimento cresça um pouco mais, que continue a sorrir mesmo contra-vontade, que o Novo Acordo Ortográfico não seja implementado, que não me venham falar de paraísos terrestres, que as baratas continuem a coexistir em agradável sintonia com as plantações de regadio, que continue a haver pampilhos, celestes e arrepiados, que o Saramago consiga garantir mais uma polémica, que o Benfica seja campeão (já disse isto?) e que, mas sobretudo, que para o ano cá estejam todos os que ousaram ler estas palavras.
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