Há quem defenda que durante um dia os funcionários de uma empresa deviam trocar de posições de forma a valorizarem o trabalho dos seus "colegas" (odeio manifestamente a palavra que sempre faz remeter a minha mente católica para o alargado universo da prostituição).
Sendo hoje uma segunda-feira antes de um feriado, a biblioteca ficou particularmente vazia de funcionários (e não só, pois ao fim de duas horas e meia de abertura ainda só cá entraram 20 pessoas - nem mais nem menos).
Foi-me então pedido que abandonasse a minha posição de Técnico Superior (por alguma estranha razão retiraram o "de 2ª Classe" da última folha de pagamentos, suspeitando eu que tenha sido uma medida para se poupar tinta) pela de normal técnico de biblioteca, plantado na recepção da biblioteca.
Confesso que tenho uma imagem romântica (diria talvez mesmo apaixonante) do posto.
Em Santarém, biblioteca onde passei várias horas da minha adolescência pseudo-revolucionária, havia uma senhora lindíssima na recepção que constituía, sozinha, razão mais que suficiente para justificar uma viagem.
Não havendo de momento necessidade de fazer uso dos meus parcos conhecimentos de catalogação (esta próxima quinta será dia de compras, não se preocupem), confesso que já li a Y, os blogues da minha lista e alguns dos seus sucedâneos, respondi a mails relativos a um projecto de poesia no ensino secundário e devorei aproximadamente 60 páginas do livro aí da coluna da direita.
Claro está que me deparei com esta bela passagem que não hesito em partilhar com os ousados leitores destas palavras:
" Entrou numa livraria. Buscaria a solução na leitura dos romances.
Pediu um, à escolha do caixeiro. Tentou ler. Impossível passar das primeiras páginas. Não compreendia como tanta gente perde horas lendo mentiras. (...) O melhor mesmo era ficar debruçado à janela."
Aníbal Machado in
Viagem aos seios de DuíliaPor muito penosa que seja esta função a que hoje me destinaram, percebi que posso ser importante para alguém (embora ainda ninguém me tenha pedido o que quer que seja e duvido que alguém o venha a fazer até às 19h).
Seja como for, cá estou, pronto para ajudar e tentar fazer esse tenebroso papel de tentar perceber quais as mentiras que as pessoas querem ler.
Em jeito de desabafo final, deixo duas notas meio amargas:
- sonho com o dia em que os conselhos dos "recepcionistas" passem para além do que lêem (Sveva Modignani; Nicholas Sparks; Anita Shreeve)
- gostava que num qualquer dia alguém trocasse comigo (just for the sake of it)
PS- (durante a "feitura" deste post passaram-se 7 minutos e entrou uma pessoa, saíram duas e fiz o empréstimo da Rainha das Cores de Jutta Bauer - tenebroso clássico contemporâneo da literatura infantil - e de Histórias para Contar Consigo da Margarida Fonseca Santos e da Rita Vilela, que se afigurava como um provável candidato à minha leitura depois dos brasileiros, o Groucho Marx e o Rogério Casanova)
Etiquetas: Criação Agostiniana